No último dia 3 de fevereiro, dias antes do Carnaval, a maior festa brasileira, a União Brasileira dos Escritores (UBE) indicou por unanimidade a escritora paulista Lygia Fagundes Telles para o Nobel de Literatura deste ano.
Infelizmente, o prêmio não desembarcou em terras tupiniquins (o cantor e compositor americano, Bob Dylan, foi o vencedor), mas conheça Lygia. Essa paulistana de tantas histórias.
Além de contista e romancista a autora é formada em Educação Física e Direito, pela Universidade de São Paulo. A autora nasceu em 19 de abril de 1923 em São Paulo seu pai Durval de Azevedo Fagundes, era advogado e a mãe Maria do Rosário Silva Jardim de Moura, era pianista. Por conta do trabalho de seu pai que também exerceu a profissão de delegado e promotor público passou a infância viajando por diversas cidades do interior de São Paulo: Sertãozinho, Areias, Apiaí e Descalvado.
Em 1950 se casa com o jurista Goffredo da Silva Telles Júnior, que foi seu professor na faculdade e também deputado federal, mas se divorciaram em 1960, da união nasceu Goffredo da Silva Telles Neto. Uma curiosidade sobre o ex-marido de Lygia Fagundes, em 2009, a Ordem dos Advogados do Brasil – Seção São Paulo na presidência de Luiz Flávio Borges D’Urso, o edifício, que hoje funciona a sede cultura da entidade, no centro de São Paulo, mudou de nome para homenagear o jurista.
No ano de 1938, a autora lança seu primeiro volume de contos, Porão e Sobrado, com auxilio do pai, que paga esta edição, na qual ainda utiliza o nome de Lygia Fagundes. Em 1952 escreveu seu primeiro romance “Ciranda de Pedra” elaborado em grande parte na famosa fazenda Santo Antônio, em Araras. Anos depois a TV Globo transformaria a obra literária em novela. A emissora adaptou duas vezes o livro de Lygia Fagundes Telles a primeira em 1981 e a segunda em 2008. A obra aborda um casal de classe média que se separa e a caçula, Virgínia, é a única das três filhas que vai morar com a mãe. A partir do ponto de vista dessa menina que se narram os dramas ocultos. Loucura, traição e morte são as forças perversas que animam esse singular romance.
Em 1962 escreveu “As Meninas”, inspirada no contexto político brasileiro da época. “Que beleza, que força, que matéria viva e lancinante em As meninas.”, escreveu Carlos Drummond de Andrade sobre a obra. A Rede Globo de Televisão mais uma vez faz adaptação da obra da autora e apresenta, em 1993, dentro da série Retratos de mulher, a adaptação da própria escritora do seu conto “O moço do saxofone”, que faz parte do livro Antes do baile verde, num episódio denominado “Era uma vez Valdete”.
Em 1982 ao tomar posse da cadeira número 28 o acadêmico Péricles E. S. Ramos no discurso de recepção a autora na Academia Paulista de Letras disse: “Estávamos em dívida para convosco, pois não era crível que uma escritora de vosso vulto ainda não tivesse tomado assento na mais alta das casas de cultura de São Paulo. Acedestes em fazer parte de nosso número. E a Academia Paulista de Letras vos recebe calorosamente.”
Em 1985, por 32 votos a 7, Lygia é a terceira mulher eleita para a Academia Brasileira de Letras, onde ocupa, até hoje, a cadeira de número 16. Quatro anos depois a autora lança seu romance As horas nuas e recebe a Comenda Portuguesa Dom Infante Santo. Em 1990 seu filho, Goffredo Neto, realiza o documentário Narrarte, sobre a vida e a obra da mãe. Em 1991 aposenta-se como funcionária pública.
No ano de 1994 participa da Feira o Livro de Frankfurt, na Alemanha, e lança, no ano seguinte, um novo livro de contos, A noite escura e mais eu. Em 1996 estreia o filme As meninas, de Emiliano Ribeiro, baseado em seu romance homônimo. Em 1997 participa da série O escritor por ele mesmo, do Instituto Moreira Salles. A editora Rocco adquire os direitos de publicação de toda a obra passada e futura da escritora. Em 1998, a convite do governo francês, participa do Salão do Livro da França. Seu livro Invenção e Memória foi agraciado com o Prêmio Jabuti, na categoria ficção, em 2001. Recebe, também, o “Golfinho de Ouro” e o Grande Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte. Agraciada, em março de 2001, com o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade de Brasília (UnB). Em 2005, recebe o Prêmio Camões, o mais importante da literatura em língua portuguesa.
O Instituto Moreira Salles (IMS) possui um grande acervo da autora formado de biblioteca com cerca de 1032 itens, entre livros e periódicos; e de arquivo com aproximadamente: produção intelectual contendo 1.010 documentos, entre os quais datiloscritos de contos e adaptações (incluindo a do romance D. Casmurro, de Machado de Assis, trabalho de Lygia em parceria com Paulo Emilio Salles Gomes que ficaria perdido em seus papéis e que seria publicado em 1993 com o título de Capitu, reeditado em 2007), correspondência com 220 itens, 240 documentos pessoais, 5.550 recortes de jornais e de revistas, 220 fotografias, cinco desenhos de autoria de Carlos Drummond de Andrade e 50 documentos audiovisuais. O acervo conta ainda com a máquina de escrever da escritora.
A autora recebeu diversos prêmios: Prêmio Instituto Nacional do Livro (1958); Prêmio Guimarães Rosa (1972); Prêmio Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras (1973); Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro (1980); Prêmio Pedro Nava, de Melhor Livro do Ano (1989). A coletânea de contos “A noite escura e mais eu” publicado em 1996 recebeu três importantes prêmios literários: Melhor livro de contos, Biblioteca Nacional; Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro; Prêmio APLUB de Literatura, Porto Alegre.
Ficou interessado em conhecer a obra da autora? Listei todos os títulos, boa leitura!
Obras da autora:
Ciranda de Pedra – Romance
Verão no Aquário – Romance
Antes do Baile Verde – Contos
As Meninas – Romance
Seminário dos Ratos – Contos
A Disciplina do Amor – Fragmentos
Mistérios – Contos
As Horas Nuas – Romance
A Estrutura da Bolha de Sabão – Contos
A Noite Escura e Mais Eu – Contos
Invenção e Memória – Contos
Durante Aquele Estranho Chá – Textos (Editora Rocco)
Os Melhores Contos (Editora Global – seleção de Eduardo Portella)
Oito Contos de Amor (Editora Ática)
Venha ver o pôr-do-sol e Outros Contos (Editora Ática)
Pomba Enamorada e Outros Contos Escolhidos (Editora LP&M Pocket – Seleção de Léa Masina)
Para quem quiser saber mais sobre:
Ciranda de Pedra: clique aqui.
Indicação ao nobel: clique aqui.
Lygia Fagundes Telles: clique aqui.
Academia Brasileira de Letras: clique aqui.
Academia Paulista de Letras: clique aqui.
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