Clube de Leitura de Jane Austen

Acredito que qualquer resenha sobre os livros de Jane Austen deveria começar com a seguinte citação: “É uma verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro possuidor de uma grande fortuna deve estar em busca de uma esposa”,  de Orgulho e Preconceito. Não por ser minha obra preferida, mas porque ela nos oferece o pontapé inicial para qualquer explanação – um leque interminável de abordagens e análises.

Cada um de nós tem uma Austen particular”

Essa é a minha! Rs

E não, essa não é uma resenha de nenhum livro de Austen – peço desculpas por decepcioná-los –, mas sim de O Clube de Leitura de Jane Austen que, certamente, nos conduzirá não só pelo século XIX, mas por entre as vidas de pessoas comuns que, diante de suas rotinas, resolvem se dedicar a ler as obras de Jane Austen.

O Clube de Leitura de Jane Austen

Tudo começa quando Jocelyn decide manter Sylvia ocupada, sua amiga de infância que passava por tempos difíceis – uma separação –, pois era preciso distraí-la. Escolhidos a dedo, os integrantes do clube dão aos romances uma nova perspectiva ao discutirem sobre cada obra, um misto de emoções e sentimentos que vão se intercalando às vidas de seus participantes.

Cada capítulo é dedicado a um romance de Austen e, por sua vez, a um integrante do clube, de modo que conseguimos conhecer cada um deles a fundo, seus anseios, suas decepções e suas frustrações, ao mesmo tempo em que conhecemos e desvendamos o intrigante e apaixonante “universo Austen”.  

O seleto grupo, composto até então por mulheres – Jocelyn, Bernadette, Sylvia, Allegra e Prodie –, tem como primeiro dilema ter ou não a participação de um homem.

Acho que devíamos ser só mulheres.”  Segundo Bernadette, “A dinâmica muda com os homens. Eles pontificam em vez de comunicar. Falam mais do que deviam. (…) Além disso, homens não participam de clubes de leitura. (…) Eles veem a leitura como um prazer solitário (…)”

Jocelyn não falou nada, porém seu próximo convite foi a um “homem  bonito de cabelos escuros, no começo da casa dos quarentas. (…) Sua inclusão no clube era um mistério”.  Todas conheciam Jocelyn e suas habilidades de cupido, mas a quem estaria Grigg destinado?

Karen Joy Fowler (a autora) já nos prende com esse início pela curiosidade de saber por quais caminhos esse enredo nos levará. Se fizermos um paralelo com as obras de Austen, podemos dizer que, em cada um dos seus seis romances, ela oferece à sua heroína um bom casamento, motivo que me animou a continuar a leitura.

C.L.J.A. 1

Estava conseguindo relacionar desde já uma leitura, que a meu ver, corriqueira aos grandes clássicos. No entanto, adianto que essa foi a minha impressão, de alguém que já tinha lido alguns romances de Austen. Claro que a leitura do Clube não requer leitura prévia das obras. Pelo contrário, acredito que se você não conhece Jane Austen, essa será uma maneira leve e brilhante de conhecê-la.

Voltemos ao enredo do Clube no primeiro capítulo. Regado a chá gelado, temos a discussão do romance Emma, publicado pela primeira vez em dezembro de 1815, que também nos conta um pouco mais sobre Jocelyn e nos ambienta com descrições que nos aconchegam ainda mais às personagens. Posso dizer que pude sentir a brisa e o cheiro de grama recém-cortada. Poderia passar muito tempo falando da sensação que tive ao ler esse primeiro capítulo e que, acreditem ou não, foi única, pois estava na esteira de uma academia lotada e barulhenta. Uma experiência bem interessante.

O capítulo dois já começa com “(…) uma lista parcial de coisas que não encontramos nos livros de Jane Austen: assassinatos em quartos trancados, beijos punitivos, moças vestidas como rapazes (e raramente o inverso), espiões, assassinas em séries, capa de invisibilidade, gatos (…)”, e “no qual lemos Razão e Sensibilidade com Allegra”. Esse foi o primeiro livro de Austen a ser publicado, em 1811, e foi escrito sob o pseudônimo A Lady.

Poderia detalhar cada um dos capítulos, mas assim quebraria o encanto e as expectativas que cada um possa ter com a leitura e, certamente, poderia influenciá-los a manter apenas um olhar sobre essa obra que, bem como as obras de Austen, nos apresenta uma gama de releituras possíveis.

C.L.J.A. 2

O que mais me chamou atenção nesse livro foi que, ao final da trama, nos é apresentado um Guia do Leitor, no qual encontramos um resumo dos enredos dos livros de Jane Austen. Lembram que eu disse que não era preciso ter lido antes? Um jeito interessante que certamente os deixarão ao menos curiosos.  É quase impossível você não querer ler nenhum deles.

Temos um verdadeiro estudo sobre Jane Austen, compilações de depoimentos de amigos e familiares sobre as obras, fatos interessantes a que não costumamos ter acesso nesse tipo de obra. Nota-se, assim, o cuidado e a responsabilidade que a autora teve ao escrevê-la. Esse guia nos traz depoimentos de grandes nomes da literatura mundial, tais como Mark Twain, Joseph Conrad, H. G. Well, Henry James, Virgínia Woolf, Rudyard Kipling, Ezra Pound, C. S. Lewis, Vladimir Nabokov, Martin Amis, J. K. Rowling, entre outros, o que abrilhanta ainda mais a obra.

Confesso que não esperava tudo isso…

(…) Mas Austen não iria querer que as coisas terminassem assim (…)”

Então, para fechar com chave de ouro, o livro nos traz um capítulo se é que podemos chamá-lo assim de questões para discussão. Questões essas que giram em torno das personagens do Clube e que, cá entre nós, acho que é uma deixa para formarmos o nosso próprio clube de leitura.

Particularmente, qual será a sua Austen?

Sobre a Autora:

Karen Joy Fowler, igualmente a Charles Dickens e a mim (não poderia deixar passar), nasceu no dia 7 de fevereiro. Também escreve ficção científica, fantasia e ficção. Recebeu vários prêmios, como Nebula (2004/2008), PEN/Faulkner, Man Booker Prize, John W. Campbell Award for Best New Writer, World Fantasy Collection, Shirley Jackson Award e California Books Award Silver Medal – Fiction.

Sobre a obra:

Título: O Clube de Leitura de Jane Austen
Autora: Karen Joy Fowler
Tradução: Angela Pessoa
Editora: Rocco
Páginas: 320


Para saber mais:

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