Mustakshaf Maezul é título da HQ de ficção científica de Luiz Felipe L. Valsani. Ele fez a arte e os textos dessa obra que é curtinha, tem 28 páginas, contando capa e contracapa.
O enredo (sem muitos spoilers) é sobre um refugiado que acaba se tornando um “multiversonauta”, isto é, um viajante de multiversos.

A edição da narrativa não é linear, isto é, não segue a linha cronológica. Algo que se encaixa bem no gênero de Sci-Fi. Os balões e as fontes são diferentes para pensamentos, diálogos e momentos específicos. Um cuidado que merece reconhecimento.
Quanto à arte, o personagem principal está bem resolvido e desenhado, mas o cenário poderia ser mais elaborado. Um volume maior de arte, contextualizando o ambiente, seria bem-vindo.
Na passagem para a dimensão alternativa, o autor usou um recurso bem legal, invertendo a impressão. É algo que agrega valor à mídia física e representa com maestria a mudança de realidade. Algo similar ao “Upsidedown” de Strangers Things da Netflix.
Voltando à narrativa e ao paralelo entre refugiado e “multiversonauta”, o protagonista avalia a hipótese de que a morte seja um meio para as pessoas chegarem a outras dimensões. Explorar outras realidades ofereceria uma chance dele reencontrar sua família, assassinada na guerra.
Aqui, do ponto de vista conceitual de multiverso, pode haver um ruído. Uma vez que, em teoria, uma pessoa morta em uma realidade pode estar viva em outra. A última temporada de Star Trek foi basicamente sobre isso.
O desafio de uma obra curta é conseguir passar uma ideia complexa (ou várias) sem simplificar demais ou então sem cair na armadilha de entregar o conceito mastigado por meio da narração ou de um diálogo. Isso, em geral, não causa empatia.
É melhor se apoiar em fatos ou em acontecimentos e deixar o leitor tomar suas próprias conclusões. Porém, normalmente, para atingir tal resultado é necessário mais fôlego.
Mustakshaf Maezul é uma HQ com um bom argumento e boas ideias, porém mais espaço para desenvolver a história a deixaria ainda melhor.
Você sabia que Jesus era um refugiado?
É uma sacada bacana fazer a ligação entre a figura do refugiado, que transita entre diferentes nações, e o viajante interdimensional, que percorre realidades paralelas.
Outra decisão interessante, é o uso do nome próprio estrangeiro como título da HQ. É uma estratégia que traz um certo desconforto semelhante ao qual a presença de refugiados, com fisionomias, crenças e hábitos diferentes, costuma causar.
Sem falar que essa é uma questão super atual, vide a migração de Sírios para a Europa e de Venezuelanos para o norte do Brasil. Ou ainda a pergunta polêmica do jornalista Bernardo Mello Franco do jornal O Globo, no dia 30/07/2018, para o candidato Jair Bolsonaro no Roda Viva da TV Cultura: “você sabia que Jesus Cristo era um refugiado?”
Atualização
Após a publicação da resenha, conversamos com o autor da HQ e Valsani nos contou o seguinte:
“Só uma curiosidade que eu acho que pode ser interessante, levando em conta a crítica. Mustakshaf não é um nome, Maezul também não seria um sobrenome. São palavras em árabe. A primeira significa “explorador” e a segunda, “exilado”. Eu juntei as duas e achei que dava um nome bacana e, quando comecei a falar pros meus amigos, como ninguém entendia de árabe, todas achavam que dava um nome legal.”
Sobre a obra:
Título: Mustakshaf Maezul
Autor: Luiz Felipe L. Valsani
Publicação: Web Head Comics
Editora: Web Head Comics
Páginas: 28 páginas
Para saber mais sobre:
Luiz Felipe L. Valsani: Facebook / Instagram
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