Setembro é o mês da primavera, das flores e dos amores – amo setembro, mas também vale lembrar: é o mês do Pauliceia Literária. Evento promovido pela Associação dos Advogados de São Paulo (AASP) que está na sua terceira edição. Entre os dias 15 e 17 de setembro, o centro velho da capital paulista foi palco do principal festival de literatura da cidade.
Eu, amante de livros e apreciador de uma boa conversa, compareci a quatro mesas e nas próximas linhas deixarei meu relato sobre o evento que, pela primeira vez, foi totalmente gratuito e realizado por dois anos seguidos.

No ano passado, o homenageado foi o carioca Luiz Alfredo Garcia-Roza. O festival deste ano prestou homenagens ao gaúcho Luis Fernando Veríssimo, que participou de um bate-papo e falou sobre a sua obra – infelizmente esse eu perdi. A Curadoria do evento ficou a cargo de Manuel da Costa Pinto, jornalista e mestre em Teoria Literária pela USP, e Manoela Leão, produtora cultural formada em Artes Visuais pela Unespar (PR).
As duas primeiras mesas que assisti, na quinta (15) e na sexta (16) à noite, foram mediadas por Christian Schwartz. Na quinta, o tema foi: “Fantasmas da Escrita”, com o escritor catarinense Cristovão Tezza. O autor falou basicamente sobre seu livro mais conhecido, “O filho Eterno”, publicado em 2007, e discorreu sobre o processo da escrita. Essa obra abordou pela primeira vez questões de âmbito pessoal do autor. Tezza contou ainda sobre a experiência de expor uma parte da sua vida em um romance e completou explicando que escritores nunca sabem o que fazem, ao contrário do que pensa o senso comum, mas fez questão de ressaltar: “O ato de escrever é profundamente transformador”.
“O filho Eterno” é uma obra sobre um protagonista que está prestes a ter seu primeiro filho. Ao ver o médico, ele pergunta se está tudo bem e não tem dúvidas da resposta positiva, mas recebe a notícia que será pai de uma criança com síndrome de Down. A notícia o desnorteia e o protagonista se mostra inseguro, medroso e envergonhado com a situação, mas aos poucos enfrenta a situação e passa a conviver amorosamente com o menino.
No dia 16, para falar sobre as “Variações do Passado”, o bem-humorado escritor argentino Alan Pauls foi o sabatinado da noite. Sua obra principal no Brasil é o livro “O Passado”, que foi adaptado para os cinemas em 2007 pelo diretor Héctor Babenco falecido no último dia 13 de julho. Sobre Hector Babenco, o autor argentino não entendia por que Babenco quis adaptar seu livro. “Ele odiava o final. Deve ter sido por isso”, brincou. Pauls mencionou não gostar do filme, mas acha interessante a genialidade de Babenco.
Sobre cinema, o autor – que também é roteirista e crítico de cinema – tem como referências cinematográficas os filmes europeus, principalmente, o francês e o alemão. Seus livros, no Brasil, eram editados pela editora Cosac Naify que teve seu fim anunciado em dezembro de 2015.
No sábado, 17, uma tarde agradável, a primeira mesa trouxe duas autoras. A brasileira Ana Luisa Escorel e a espanhola Milena Busquets, e os mediadores foram Manoel da Costa Pinto e o secretário da educação de São Paulo, Jose Renato Nalini, para falar sobre “luto, adultério e melancolia”. O destaque dessa mesa foi negativo, o secretário de educação foi impertinente e constrangedor e não conseguiu acertar nenhuma pergunta decente para a autora espanhola. Chegou ao ponto da plateia se manifestar contrariamente cada vez que Nalini ameaçava fazer uma pergunta. Foi constrangedor!
A segunda mesa tratou de “ficção e confissão”, e foi bem mais harmoniosa com Marcelo Rubens Paiva e a autora moçambiquenha, Ana Cássia Rebelo. Eles fizeram um bate-papo divertido onde os dois trocaram experiências literárias e contaram um pouco como escrevem seus livros, pois ambos têm livros de memórias. O resgate na memória das lembranças antigas são essenciais para a construção do enredo, sendo o ponto chave das obras dos dois escritores. Uma particularidade: Marcelo Rubens Paiva disse que levou seis anos para escrever “Não és tu Brasil”.
Seu recente livro “Ainda Estou Aqui” conta a história da infância do autor, quando sofreu o primeiro grande trauma da sua vida: o desaparecimento do pai, o deputado federal Rubens Paiva, cassado no golpe de 1964, torturado e morto por militares em 1971, e ainda faz um acerto de contas com a mãe. Ana Cássia Rebelo pediu desculpas aos presentes, mas acha a coisa mais desinteressante ouvir autores falarem: “Não tenho interesse nenhum em saber o que ele pensa, se é de direita, se é de esquerda, se foi fiel ou foi infiel; a obra fala por si”, disse ela arrancando risos da plateia.
No final da tarde saí da última mesa com a cabeça cheia de ideias e maravilhado com as conversas e com a organização do evento. Papos descontraídos ajudaram a humanizar os autores que circulavam livremente após as suas apresentações, sem nenhum tumulto ou aglomeração. O Pauliceia Literária propôs uma interação do público com os autores e realizou com maestria. Vida longa ao Pauliceia Literária!
Para quem quiser saber mais:
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