Sim! No quarto dia da Flip, chegamos à cidade de Paraty!
No primeiro dia de nossa visita, Victor e eu decidimos conhecer o lugar e caminhar em cada rua do Centro Histórico para nos localizarmos e sentirmos o clima da 15ª Festa Literária de Paraty.
A vontade de conhecer o evento nasceu há muitos anos, quando descobrimos que a Festa existia. No entanto, acabávamos não nos organizando para poder prestigiar esse evento tão importante para a literatura brasileira e internacional. Cabruuum nos incentivou! Como um site que tem a proposta de falar sobre as diferentes formas de leitura não estaria presente em Paraty? Resultado: FOMOS!
Nossa experiência
Paraty encanta pela beleza simples e pela natureza que cerca a cidade. Preparada e enfeitada para a Flip, seduz ainda mais. Luzes, bandeirinhas, muitas pessoas de todas as idades e perfis, livros, atrações diferentes ocorrendo ao mesmo tempo. Ficamos até às 23h no Centro Histórico e a movimentação ainda estava bastante intensa e sem previsão de término.
Demoramos para nos situar e, na verdade, ainda estamos um pouco perdidos, mesmo já estando de volta a São Paulo desde domingo à noite. Hehehe… As ruas são parecidas e a sinalização deixa um pouco a desejar, porém, quem sabe usar mapas, sai em grande vantagem. (Nós não sabemos muito bem!)
Como pessoas controladas que somos, acabamos comprando apenas um livro (quem sabe não rola uma resenha mais para frente), até porque não vimos muitas vantagens e descontos na Livraria da Travessa. Mesmo assim, muita gente andava pela cidade carregando sacolas pesadas.
O auditório externo, com espaço para 700 pessoas sentadas e telão, manteve-se lotado praticamente em todo momento em que as mesas aconteciam na Igreja da Matriz – uma das novidades dessa edição do evento – e eram transmitidas gratuitamente.
Após aprendermos a nos equilibrar nas pedras das ruelas de Paraty, resolvermos ir conhecer a Casa do Papel. Que lugar lindo e gostoso! Parecia uma conversa entre amigos em um quintal confortável. Ah! Outra coisa que ajudou muito a manter a integridade e os horários das atrações da Flip foi o tempo bom, com sol, céu limpo e nenhuma previsão de chuva.
Para garantir a presença do Cabruuum na coletiva de encerramento de domingo com a presença de Liz Calder (presidente do conselho diretor), Mauro Munhoz (diretor-geral do programa principal), Joselia Aguiar (curadora dessa edição) e Izabel Costa Cermelli (diretora-geral do programa educativo), fomos buscar nossas credenciais na Casa de Imprensa, mais um lugar aconchegante com uma arquitetura linda.
O primeiro dia terminou com jantar, café e sobremesa comprados no Centro Histórico, além de uma apresentação de ciranda que ocorreu na Casa da Cultura. O som gostoso dos instrumentos e das palmas dos visitantes que dançavam nos atraiu e, antes de irmos para a pousada nos preparar para o domingo, recebemos de presente as músicas gostosas do grupo Os Caiçaras.
Ah, Paraty! Que delícia!
Obs.: Gostaríamos de reforçar que os custos da viagem, da estadia e da alimentação foram todos cobertos por nós mesmos =D
Como não conseguimos marcar presença nas mesas, para aqueles que gostam de conferir os temas abordados nas conversas que ocorreram no quarto dia de Flip, segue relato oferecido pela assessoria do evento:
Uma conversa sobre o poder formador da literatura infantil e a urgência de investir em educação abriu o sábado da Flip. Os poetas e professores Edimilson de Almeida Pereira e Prisca Agustoni participaram da mesa Ler o mundo, parte da programação do Território Flip/Flipinha, apresentada no Auditório da Praça.
Edimilson pontuou as dificuldades do acesso ao livro num país desigual como o Brasil: “Lamentavelmente, as dificuldades do ensino público fazem com que os alunos não consigam ser leitores. Tem antes que comer, chegar à escola. Existe uma vasta camada de excluídos. Nosso esforço é, portanto, ainda maior, nosso compromisso com uma literatura honesta vai na direção de incluir esse campo de leitores à nossa esfera social. A literatura infantil é um dos núcleos instituintes da leitura no Brasil.”
Já no Auditório da Matriz, na mesa Fora de série, o historiador João José Reis e Ana Miranda, autora de romances históricos e biografias, falaram sobre as fronteiras entre realidade e ficção no processo de recontar a história do Brasil e de seus personagens emblemáticos. “O que era ficção e o que era realidade não era claro para mim. Durante muitos anos eu tive pesadelos, pensava se podia tratar a realidade assim. Eu vivia numa espécie de limbo”, contou Ana, que assina “Xica da Silva – A cinderela negra”.
João, referência internacional em estudos sobre a escravidão, ressaltou a importância de inserir estudos africanos no currículo do ensino de base e criticou a reforma trabalhista empreendida pelo atual governo. “Há um massacre aos índios, aos trabalhadores sem terra […]. Não é ficção. Esqueçam a ficção. O que estamos vivendo está muito bem documentado, inclusive para os historiadores do futuro.”
A poeta Adelaide Ivánova fez uma participação contundente na série “Fruto Estranho”, que abriu a mesa Kanguei no maiki – Peguei no microfone. A pernambucana leu texto de sua autoria, uma costura asfixiante de histórias de feminicídio, tanto recentes quanto egressas da ditadura militar. Os autores convidados da mesa, Maria Valéria Rezende e Luaty Beirão, são também ativistas e resistiram – por meio da palavra – a experiências de encarceramento e a regimes autoritários. “Na prisão, não temos com quem conversar, a escrita era meu desabafo”, relatou o autor angolano.
Na contramão da autoficção, um gênero já tão característico da contemporaneidade, o islandês Sjón e o carioca Alberto Mussa traçaram uma ponte entre o Rio e Reykjavík na mesa Mar de histórias. O autor nórdico pontuou que nunca sentiu necessidade de contar a própria história: “É possível ser bastante autobiográfico sem falar de si mesmo no texto […]. A máscara fala mais de uma pessoa do que o rosto que está por trás dela”. Em comum, os dois autores carregam também a grande importância que atribuem à mitologia – via tradição oral nórdica no caso de Sjón, e Mussa, por meio da matriz afro-brasileira.
À noite, o Auditório da Matriz foi palco do encontro entre a jornalista argentina Leila Guerriero e o escritor francês Patrick Deville, sob mediação do editor Paulo Roberto Pires. Criação, partitura, realidade e ficção pautaram o debate durante a mesa Trotsky nos trópicos. Aficionada como é por contar a realidade, Leila diz ver na forma e na estrutura das frases possibilidades de criação, de subjetividade. “A gente se submete a cada coisa… tem que lutar contra o cansaço físico e o tédio”, afirmou a jornalista, sobre a sua profissão. André Vallias abriu a mesa, como parte da série “Fruto Estranho”, com a videoarte “Moteto”, combinando sons e imagens de textos de Lima Barreto a vinte pseudônimos do Autor Homenageado.
O encerramento da noite ficou por conta dos colecionadores de prêmios Marlon James, jamaicano radicado em Minnesota, e Paul Beatty, californiano residente em Nova York, com um debate especialmente frutífero. Juntos no Auditório da Matriz, na mesa O grande romance americano, os dois autores negros percorreram influências musicais, televisivas e literárias – de Led Zeppelin a Gay Talese, de Os Batutinhas a Mark Twain – para traçar um panorama dos dias atuais, incluindo-se aí a questão racial. “As pessoas me perguntam: alguém não negro poderia ter escrito seu livro? E eu respondo: nenhum outro ser humano poderia ter escrito meu livro”, arrematou Paul, vencedor do Man Booker Prize – mesma honra concedida a Marlon.
*Texto escrito com informações da Flip. As atividades do último dia de evento estarão em outro post.
Para quem quiser saber mais:
A Flip oferece transmissões ao vivo pelo link:
https://flip.everstreamplay.com/ao-vivo
E informações nas redes sociais:
https://www.facebook.com/flip.paraty
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Saiba mais sobre Lima Barreto:
http://flip.org.br/edicoes/flip-2017/homenageado
E sobre a Flip:
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