Recentemente, eu, este que lhes escreve, resolvi me aventurar na arte das palavras: me propus a escrever poesias e confesso que é um ato bem prazeroso e libertador. E nesta aventura descobri, por um acaso, uma curiosidade. O grande poeta mundialmente conhecido como Pablo Neruda é meu xará.
Vocês conhecem Ricardo Eliecer Neftalí Reyes Basoalto? Este é o verdadeiro nome do poeta chileno nascido em 12 de julho de 1904, na cidade de Parral, situada na região central do Chile.
Único filho do matrimônio do ferroviário José Del Carmen Reyes Morales e da professora Rosa Basoalto, que, infelizmente, morre dois meses depois do nascimento do poeta. Anos depois, o pequeno Neruda foi viver na cidade de Temuco, onde seu pai casou-se novamente com Trinidad Candia Malverde, a quem Neruda lhe dedicou o poema “La Mamadre”.
Desde sua infância, Neruda mostrou interesse no rico mundo natural ao seu redor, que foi a floresta nativa chilena, que juntamente com o mar vão se tornar questões de grande inspiração de sua poesia.

No Liceu de Homens de Temuco, ele conhece a poeta Gabriela Mistral – que também recebe o Prêmio Nobel de Literatura – e trabalha na cidade como diretora do “Liceu de meninas”. Ela o apresenta a grande narrativa russa.
Em 1921, Neruda mudou-se para Santiago, a capital, para seguir a carreira de Pedagogia em francês, no Instituto Pedagógico da Universidade do Chile. No ano de 1927, é nomeado cônsul-geral do Chile em Rangum, na Birmânia (atual Mianmar). Neruda continuaria sua carreira diplomática em Djacarta, Madrid (durante o período da Guerra Civil Espanhola) e México, onde foi embaixador de 1940 a 1942. O poeta ainda foi cônsul em Cingapura, México e Espanha.
Em 1955, ano do divórcio de sua segunda mulher, Neruda iniciaria um relacionamento com Matilde Urrutia que duraria até a sua morte.
Seguiram-se os livros Estravagario (1958), Odas Elementales (1954-1959), Cem Sonetos de Amor (1959), Memorial de Isla Negra, obra autobiográfica em cinco volumes publicada em 1964 por ocasião do 60º aniversário do poeta, Arte de Pájaros (1966), La Barcarola (1967), a peça Fulgor e Morte de Joaquín Murieta (1967), Las Manos del Día (1968), Fin del Mundo (1969), Las Piedras del Cielo (1970) e La Espada Encendida (1970).
No ano de 1969, o Partido Comunista o nomeia candidato a Presidente da República. Ele retirou sua candidatura em favor de seu amigo, o socialista médico Salvador Allende, que chegou ao poder em 1970. No ano seguinte, recebe a notícia da atribuição do Premio Nobel de Literatura e dois anos depois, em 11 de setembro de 1973, é derrubado o governo do presidente Allende. Neruda, gravemente doente, foi transferido de sua casa na costa em Isla Negra para uma clínica em Santiago, onde morreu em 23 de setembro. Fica enterrado no mausoléu da família. Somente após a restauração da democracia, em dezembro de 1992, seu último desejo é cumprido quando, com muita honra, fica enterrado em Isla Negra, onde repousa com Matilde Urrutia.
Poeta admirado internacionalmente, sua obra compreende 45 livros – traduzidos para mais de 35 idiomas.
Cem Sonetos de Amor e referências
O livro foi lançado em dezembro de 1959 é um dos legados poéticos mais perfeitos que comove várias gerações. Escrito para Matilde Urrutia, sua esposa e amada. O autor dividiu o livro nos momentos do dia Manhã, Meio-Dia, Tarde e Noite. Existe a preocupação e o cuidado do autor em sensibilizar o leitor para que ele mergulhe em seus textos. A meu ver, o motivo da divisão é apenas para nos situar em cada momento do dia mostrando assim a diferenciação de cada período.
O amor é o ponto central da obra e não apenas o romântico. Ele escreve também sobre a natureza, outra grande paixão do autor. Creio que a intenção de Pablo Neruda era somente transmitir de forma simples, mas com um cuidado muito especial na combinação e na escolha das palavras, sobre esse sentimento tão simples, mas que há algum tempo vem sendo banalizado. Ele, homem culto que era, sabia que o amor é ao mesmo templo complexo e simples, o que o torna contraditório, mas é parte fundamental da vida. Recomento “Cem Sonetos de Amor” para quem quer conhecer, gosta e vive a poesia e o amor nas mais diferentes formas e sentidos que a palavra permite.
O poeta chileno inspira e é referência em várias obras literárias no mundo. Um exemplo vem do escritor chileno Antonio Skármeta, que no ano de 1985 publicou o livro “O carteiro de Pablo Neruda”. A obra seria filmada anos depois pelo diretor e roteirista britânico Michael Radford e se tornaria um grande sucesso, inclusive com indicações ao Oscar. A obra tem como cenário o refúgio de Pablo Neruda em Isla Negra, no Chile. E conta a amizade do carteiro Mario Jiménez com o poeta, e como surge a admiração pelas poesias e a cumplicidade entre os dois, até a morte de Neruda.
Que este breve perfil possa despertar em você, meu caro leitor, da mesma forma que despertou em Mario Jiménez, o interesse não apenas na obra de Neruda, mas também no prazer que é ler e viajar pelo mundo no olhar de outra pessoa. Deixo vocês com um dos sonetos.
NÃO TE AMO como fosses rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.
Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascendeu da terra.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
senão assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.
Para quem quiser saber mais:
Fundação Pablo Neruda:
https://fundacionneruda.org/
Texto sobre “Cem Sonetos” publicado no Homo Literatus:
Viver e morrer infinitamente de amor: ‘Cem Sonetos’, de Pablo Neruda
Texto sobre “Cem Sonetos” publicado no blog Vida de Leitor:
https://vidadeleitor.blogspot.com.br/2011/11/cem-sonetos-de-amor-pablo-neruda.html
Sinopse e detalhes sobre “O carteiro e o Poeta” no Adoro Cinema:
http://www.adorocinema.com/filmes/filme-12730/
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