Astronauta – Magnetar: ou a solidão do espaço que nos cerca

No mar, me dediquei a desfrutar desse exercício de descobrir a proximidade por meio da distância.

Amyr Klink – Navegador e escritor

Em 2009, Mauricio de Sousa completou 50 anos de carreira como quadrinista. Para celebrar o feito, a Mauricio de Sousa Produções organizou e lançou o álbum MSP 50 – Mauricio de Sousa Por 50 Artistas em que, como o nome diz, 50 artistas brasileiros foram convidados para fazerem releituras dos clássicos personagens do autor.

A ideia fez tanto sucesso pela criatividade e qualidade, agradando público e crítica, que logo veio o projeto das Graphic MSP, em que muitos desses mesmos artistas foram convidados novamente a fazerem releituras, mas, desta vez, com edições solo.

Inaugurando este novo selo, em 2012, fomos presenteados com Astronauta – Magnetar, com roteiro e arte de Danilo Beyruth e cores de Cris Peter.

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Astronauta Pereira [sim, é este o nome do personagem :o], mais conhecido apenas como Astronauta, foi criado em 1963 pra “rivalizar” com personagens estrangeiros populares na época como Flash Gordon, por exemplo.

As histórias deste desbravador dos céus sempre foram pano de fundo para reflexões sobre nosso modo de vida aqui em terra firme. Assim, a dualidade da necessidade da aventura e da descoberta com a saudade de casa e da família é um de seus traços mais característicos, e que foi preservado com grande maestria pela construção de personagem e enredo de Beyruth.

Falando assim, pode parecer que não há ação nesta viagem, mas depois de um curto flashback, somos jogados no espaço com todos os seus deslumbramentos e perigos, o que leva a cenas de ação dignas de filmes hollywoodianos.

Acompanhamos Astronauta numa missão para coletar dados in loco de um Magnetar, uma estrela de nêutrons que é relativamente pequena, mas que tem um campo magnético extremamente potente – cerca de um trilhão de vezes maior que o da Terra – que faz com que estes astros sejam os superímãs do universo.

[Calma, que no quadrinho tem uma página inteira com uma explicação bem didática (e bonita) sobre como essas estrelas se formam.]

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Devido a este magnetismo que causaria interferência nos equipamentos da nave, Astronauta não pousa diretamente no Magnetar, mas usa um cinturão de asteroides – que orbita o astro – para pousar num deles. O que seria uma boa solução se a natureza não tivesse seus próprios processos independentemente da presença humana…

A solidão do espaço que nos cerca

Outro tema presente, ainda que muitas vezes não seja mencionado diretamente, é a solidão.

Sua única companhia é o computador da nave – que é bem impessoal, pois não tem nem mesmo um nome ou apelido, é chamado apenas de “computador”. Outro indício do isolamento é metalinguístico: os balões de narração estão presentes, mas não temos uma voz nos guiando, apenas os pensamentos do próprio Astronauta. Até nisto ele está só.

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Outro recurso usado é a equiparação das metáforas da navegação no mar com a navegação entre as estrelas, aproximando o trabalho, os erros e a solidão destes desbravadores. Citando até mesmo, num momento da narrativa, alguns grandes nomes da navegação como Shackleton [participou de três expedições à Antártida], Cabral [se você não matou esta aula de história, sabe quem é rs] e Hassanein [explorador egípcio, fez expedições pelo deserto e criou mapas para orientar os próximos viajantes 🙂 ].

Outra metáfora do mar é a figura do náufrago. Tendo sua única companhia no espaço – o computador – sido afetada por uma explosão de raios gama do Magnetar, Astronauta se vê numa solitária luta pela sobrevivência, em que muitas situações e sentimentos podem ser comparados com os dos náufragos dos oceanos.

A solidão se materializa neste momento da narrativa com o agravante da luta pela sobrevivência e [des]esperança de resgate. Como um verdadeiro náufrago, o personagem cria uma rotina de trabalho numa tentativa de manter a mente e o corpo sãos. Rotina que se torna monótona e frágil se comparada ao silêncio do espaço que o cerca.

Os dias se acumulam deixando sua mente nublada. Intercalando lucidez e loucura, ele aproveita os momentos de clareza para tentar sobreviver ao isolamento, pois tem consciência de seus episódios de insanidade.

Neste momento, Beyruth mostra o seu talento como artista transformando todo este clima em imagens, mostrando a passagem do tempo, a repetitividade da rotina e da solidão sem citar nenhuma destas coisas diretamente.

Todo este isolamento cercado por estrelas parece esmagador, mas o que Astronauta nos mostra é que com a mesma vontade e coragem com que desbravamos o mundo, também podemos fortalecer os laços de amizade e família preenchendo o vazio do espaço que nos cerca.

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Para quem quiser saber mais:

Twitter do Mauricio de Sousa: @mauriciodesousa
Twitter do Danilo Beyruth @danilobeyruth
Twitter da Cris Peter @crispeter (ela tem este site https://crispeterdigitalcolors.com/ também)

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4 comentários em “Astronauta – Magnetar: ou a solidão do espaço que nos cerca

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