A Festa Literária Internacional de Paraty acontecerá de 25 a 29 de julho, na cidade que teve sua candidatura como Patrimônio da Humanidade (paisagem cultural e natural) aceita pela Unesco em março deste ano.
Na manhã de terça-feira, dia 5 de junho, o Cabruuum acompanhou in loco o anúncio da programação realizado no auditório da Pinacoteca de São Paulo, que também foi transmitido ao vivo pelo Facebook.

Mauro Munhoz, diretor-geral da Flip, comentou sobre o recorde de programações e casas parceiras deste ano, serão 20 ao total (em 2017, foram apenas sete). Ele destacou também o Ciclo do Autor Homenageado Presença de Hilda Hilst que, em parceria com o Centro de Formação e Pesquisa Sesc São Paulo, ocorrerá em São Paulo (oito encontros) e no Rio de Janeiro (quatro discussões).
Já Belita Cermelli, diretora-geral responsável pelo Programa Educativo, destacou a programação feita em parceria com escolas públicas e bibliotecas comunitárias do município. O Ciclo Literatura e Território explora através de suas ações com os alunos o papel da literatura na construção da identidade cultural local, fomentando assim a formação de novos leitores. A curadoria pedagógica é de Beatriz Goulart.
Uma destas ações foi a distribuição de maletas de viagem contendo máquina fotográfica e filmadora, binóculo, rolo de papel, miçangas etc. e dez livros selecionados de acordo com a especificidade de cada escola e biblioteca. Os materiais ajudaram os estudantes a elaborarem um inventário participativo do município que, segundo Belita, esperam conseguir apresentar para os representantes da Unesco que virão avaliar a candidatura da cidade em setembro.
A curadora Joselia Aguiar falou sobre a programação principal do evento que, acompanhando a produção artística da autora homenageada, Hilda Hilst, terá suas mesas literárias amparadas em temas como amor, sexo, morte, deus, finitude e transcendência.
A homenageada
Hilst (1930-2004) foi uma artista multifacetada. Estreou na literatura aos 20 anos com um livro de poesia, mas também escreveu ficção em prosa, teatro e crônica. Em 1966, retirou-se para a Casa do Sol, chácara no interior de São Paulo, onde, cercada pela natureza, tornou o lugar seu espaço de estudos e criação. Este afastamento da efervescência cultural do grande centro foi um dos responsáveis pela sua fama de eremita, mesmo que sua Casa fosse costumeiramente frequentada por amigos e artistas.

Uma de suas experiências literário-científicas no lugar foi deixar gravadores ligados para registrar vozes de espíritos, nomeou o estudo de Transcomunicação Instrumental, e esta obra serviu como inspiração para o longa-metragem Hilda Hilst pede contato, da cineasta Gabriela Greeb, que estará na mesa 2, na quinta-feira (26), com Vasco Pimentel, sound designer do projeto, para comentar sobre o filme que mistura documentário, ficção e literatura.
As vozes e a escuta, o som enfim, são aspectos importantes da obra da poeta, por isso, a sessão de abertura, na noite de quarta-feira (25), ficará a cargo de três artistas pertencentes à mesma geração: Hilda Hilst, que estará presente por meio das leituras de sua obra que serão realizadas pela atriz Fernanda Montenegro, e de Jocy de Oliveira, pioneira da música de vanguarda eletroacústica, que hoje se dedica à ópera multimídia.
Flip 2018
A Flip deste ano promete ter um caráter mais íntimo, espelhando o projeto literário da autora homenageada, contribuindo para a redescoberta de sua obra por novos leitores.
Outros nomes que estarão na Festa serão a poeta portuguesa Maria Teresa Horta (que vai participar por vídeo), a pesquisadora Djamila Ribeiro, o escritor congolês Alain Mabanckou, o músico Zeca Baleiro, entre muitos outros que prometem tornar a festa multicultural uma celebração à obra de Hilda.
Abaixo, você encontra a programação principal, que também está disponível no site da Flip.
As sinopses das mesas são da organização do evento:
GRADE
Quarta-feira, 25 de julho
20h | Mesa 1 | Sessão de abertura: Hilda, Fernanda e Jocy
Fernanda Montenegro
Jocy de Oliveira
Três artistas geniais da mesma geração celebram a arte mais transgressora: Hilda Hilst, homenageada da Flip 2018, Fernanda Montenegro, uma das maiores atrizes brasileiras, e Jocy de Oliveira, pioneira na música de vanguarda hoje dedicada à ópera multimídia.
Quinta-feira, 26 de julho
10h | Mesa 2 | Performance sonora
Gabriela Greeb
Vasco Pimentel
A voz, a escuta e as divagações literárias e existenciais de Hilda Hilst registradas em fitas magnéticas na década de 1970 são apresentadas pela cineasta Gabriela Greeb e o sound designer português Vasco Pimentel.
12h | Mesa 3 | Barco com asas
Júlia de Carvalho Hansen
Laura Erber
Maria Teresa Horta (em vídeo)
Esse diálogo inusitado reúne, por vídeo, um grande nome da poesia de Portugal do último meio século e, em Paraty, duas poetas brasileiras influenciadas pela lírica portuguesa que têm pontos em comum com Hilda Hilst.
15h30 | Mesa 4 | Encontro com livros notáveis
Christopher de Hamel
A religião, a magia, a luxúria e a leitura na época medieval se apresentam nas páginas do Evangelho de Santo Agostinho, do Livro de Kells e de Carmina Burana, comentadas pelo maior especialista do mundo nesses manuscritos.
17h30 | Mesa 5 | Amada vida
Da perda | performance de Bell Puã, slammer pernambucana, a partir de tema de Hilda Hilst.
Djamila Ribeiro
Selva Almada
Uma ficcionista argentina que escreveu sobre histórias reais de feminicídio e uma feminista negra à frente de uma coleção de livros conversam sobre como fazer da literatura um modo de resistir à violência.
20h | Mesa 6 | Animal agonizante
Sergio Sant’Anna
Gustavo Pacheco
Um grande mestre da literatura brasileira que abordou o desejo, a solidão e a morte relembra sua trajetória ao lado de um leitor seu e autor estreante elogiado pela crítica portuguesa com histórias de humanos e outros primatas.
Sexta-feira, 27 de julho
10h | Mesa 7 | Poeta na torre de capim
Ligia Fonseca Ferreira
Ricardo Domeneck
A falta de leitores e o silêncio da crítica, como reclamava Hilda Hilst: para esse debate, encontram-se a grande especialista no poeta negro Luiz Gama e um poeta e editor atento a nomes ainda fora do cânone, como Hilda Machado, que morreu inédita em livro.
12h | Mesa 8 | Minha casa
Fabio Pusterla
Igiaba Scego
Fazer literatura tendo uma língua comum – o italiano – e diferentes aportes, fronteiras e paisagens geográficas e literárias: nesse diálogo, reúnem-se o poeta de um país poliglota, que é tradutor do português, e uma romancista filha de imigrantes da Somália, que escreveu sobre Caetano Veloso.
15h30 | Mesa 9 | Memórias de porco-espinho
Alain Mabanckou
O absurdo e o riso, Beckett, culturas africanas, escrita criativa e crítica da razão negra: a trajetória e o pensamento de um poeta e romancista franco-congolês premiado se revelam nessa conversa com dois entrevistadores.
17h30 | Mesa 10 | Interdito
Do desejo | performance do escritor e artista visual paulista Ricardo Domeneck a partir de tema de Hilda Hilst.
André Aciman
Leila Slimani
O exercício da liberdade de escrever e a escolha de temas tabu ou proibidos – a exemplo do homoerotismo, da sexualidade feminina e da religião – são as questões tratadas nesse diálogo entre dois romancistas, um judeu americano de origem egípcia e uma francesa de origem marroquina.
20h | Mesa 11 | A santa e a serpente
Eliane Robert Moraes
Iara Jamra
A obra de Hilda Hilst em poesia e prosa é vista tanto em sua dimensão corpórea quanto mística por uma ensaísta que atua na fronteira entre a literatura e a filosofia, enquanto são feitas leituras por uma atriz que encarnou a sua personagem mais famosa – Lori Lamby.
Sábado, 28 de julho
10h | Mesa 12 | Som e fúria
Jocy de Oliveira
Vasco Pimentel
A escuta e a criação de universos sonoros: para esse diálogo, encontram-se uma das pioneiras da música de vanguarda no país, hoje dedicada à ópera multimídia, e um sound designer português – os dois conhecidos pelo rigor e pelo preciosismo.
12h | Mesa 13 | O poder na alcova
Simon Sebag Montefiore
Historiador britânico best-seller que publicou biografias de Stálin, dos Romanov e, agora, de Catarina, a Grande, conta, nessa conversa com dois entrevistadores, como faz para retratar figuras centrais da política em seus pormenores mais íntimos.
15h30 | Mesa 14 | Obscena, de tão lúcida
Isabela Figueiredo
Juliano Garcia Pessanha
Uma romancista portuguesa nascida em Moçambique que tratou de temas como o racismo e a gordofobia se encontra com um narrador de gênero híbrido e filosófico para discutir a escrita de si, os diários e as memórias, o corpo e o desnudamento.
17h30 | Mesa 15 | Atravessar o sol
Cantares do sem nome | performance do poeta e artista visual maranhense Reuben da Rocha a partir de tema de Hilda Hilst.
Colson Whitehead
Geovani Martins
O americano vencedor do Pulitzer com um romance histórico sobre escravizados que construíram sua rota de fuga se encontra com um estreante que, da favela do Vidigal, inventa com liberdade seu jeito de narrar e usar as palavras.
20h | Mesa 16 | No pomar do incomum
Liudmila Petruchevskáia
Um dos grandes nomes da literatura russa moderna, comparada a Gogol e Poe por seus contos de horror e fantasia que não dispensam o teor político, relembra sua trajetória proibida por décadas no regime stalinista, hoje aclamada de Moscou a Nova Iorque.
Domingo, 29 de julho
10h | Mesa Zé Kleber | De malassombros
Franklin Carvalho
Thereza Maia
Um narrador do sertão baiano que abordou a mitologia da morte em seu premiado romance de estreia se encontra com uma folclorista que recolheu histórias orais de Paraty, em um diálogo sobre o território e seus encantados.
12h | Mesa 17 | Sessão de encerramento | O escritor e seus múltiplos
Eder Chiodetto
Iara Jamra
Zeca Baleiro
Uma atriz, um compositor e um fotógrafo que fizeram obras baseadas em Hilda Hilst relembram os encontros com a autora, o processo de criação e as marcas que a experiência deixou em suas trajetórias.
15h30 | Mesa 18 | Livro de Cabeceira
Autores da Flip 2018 leem trechos de seus livros preferidos, em uma sessão conduzida por Liz Calder.
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